Andre Luiz Santiago Eleuterio
“Entre o Discurso e a Prática | André Luíz Santiago Eleutério”
A incoerência no dia a dia
As pessoas criam regras que não cumprem, impõem comportamentos que não têm, esperam o respeito que não dão, e ditam princípios que não seguem.
Essa é a essência de um dos maiores conflitos da convivência humana: a distância entre o discurso e a prática. Vivemos cercados de exigências, normas e julgamentos que, muitas vezes, vêm de pessoas que não têm o menor interesse ou esforço em aplicar à própria vida aquilo que cobram dos outros.
Não é raro encontrar quem fale sobre empatia, mas trate os outros com impaciência. Quem pregue honestidade, mas recorra a pequenos atalhos sempre que convém. Quem espere fidelidade, mas se permita deslizes sem culpa. Tudo isso revela uma cultura onde a aparência de moralidade vale mais do que a prática silenciosa da ética.
E talvez o mais perigoso não seja a hipocrisia evidente, mas aquela que se esconde por trás de discursos bonitos, de frases prontas, de um comportamento socialmente aceito, mas emocionalmente vazio. A necessidade de parecer correto tem suprimido o esforço sincero de ser melhor. Cobrar se tornou mais fácil do que refletir.
Quem vive apontando o erro alheio raramente olha para dentro. É mais confortável exigir respeito do que oferecê-lo. Mais conveniente impor limites do que respeitar os dos outros. E assim, nos perdemos em um ciclo de incoerências que esgota relações, destrói confiança e enfraquece o valor da palavra.
A verdade é que princípios não deveriam ser armas. Deveriam ser guias. Mas quando usados para dominar ou humilhar, perdem totalmente sua nobreza. É incoerente quem impõe regras que jamais se aplicaria, quem dita condutas que nunca praticou, quem se vê como exemplo sem coragem de admitir as próprias falhas.
A transformação começa na honestidade consigo mesmo. Não se trata de ser perfeito, mas de ser coerente. De reconhecer que cada valor que cobramos dos outros precisa antes habitar nosso próprio comportamento. Só assim criamos vínculos verdadeiros, baseados não em discursos, mas em atitudes.
Não é preciso gritar princípios para que eles sejam percebidos. Basta vivê-los. O silêncio coerente de alguém que respeita, mesmo sem ser respeitado, fala muito mais alto do que discursos inflamados de quem se contradiz nas entrelinhas. Integridade é a prática constante daquilo que se acredita, mesmo quando ninguém está olhando.
A convivência melhora quando há verdade. Quando as regras são justas porque se aplicam a todos. Quando o respeito é ofertado antes de ser exigido. Quando os princípios são vividos de dentro para fora — e não apenas cobrados de fora para dentro.
Antes de impor, pratique. Antes de exigir, ofereça. Antes de julgar, reflita. E antes de ditar qualquer regra, certifique-se de que você a segue. O mundo não precisa de mais vozes exigentes, mas de exemplos silenciosos que inspirem, pela coerência, a mudança que tanto se cobra do outro.
Por André Luiz Santiago Eleuterio
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