Abaetetuba (PA) já confirmou 276 casos de Doença de Chagas em 2025

De janeiro a abril deste ano, o serviço especializado em Doenças de Chagas de Abaetetuba já confirmou 276 casos da forma crônica da doença, aquela que não apresenta sintomas imediatos. Outros 272 casos estão em investigação.
Profissionais de saúde apontam a ligação direta entre o clima, o desmatamento e a exposição da população aos barbeiros, vetores da doença. Fagner Carvalho é médico com especialização em infectologia, professor da Afya Faculdade de Ciências Médicas de Abaetetuba e coordenador do serviço especializado em Doença de Chagas no município. Ele comenta a situação.
“Porque a Doença de Chagas é causada por um parasita, transmitida principalmente pelo barbeiro, que é um inseto que vive nas áreas silvestres, mas pode se aproximar das casas, especialmente quando o ambiente natural que ele vive ele é derrubado. E as mudanças climáticas, o aumento da temperatura, o desmatamento e alterações, com o clima da chuva, faz com que esses insetos se espalhem mais facilmente para os locais onde antes não tinham áreas para sobreviver, as áreas urbanas. Então, a gente tá tendo um aumento muito grande do parasita convivendo em área urbana. Além disso, as enchentes, as queimadas, elas desorganizam todo o ambiente”.
Além do aumento de vetores, o consumo de alimentos contaminados como açaí mal higienizado também contribui para a transmissão da doença.
De acordo com o médico infectologista Fagner Carvalho, a maioria dos casos registrados na Amazônia atualmente tem origem nesse tipo de contaminação, agravada pelo modo de produção em áreas ambientalmente fragilizadas. Ele comenta as ações de combate do vetor.
“Em casos relacionados há um aumento do consumo de açaí que é associado à transmissão oral. Mas vale lembrar que nem sempre é só a transmissão oral que vai fazer a transmissão do parasita. E como é que a gente trabalha aqui no município? Abaetetuba, depois do projeto Integra Chagas, está em andamento, um projeto coordenado pela Fiocruz do Rio de Janeiro, onde foi feito a testagem rápida dos pacientes para Doença de Chagas crônicas, observou um aumento muito grande dos pacientes que positivaram, mesmo estando sem sintomas. E, através disso, a secretaria criou um serviço de Doença de Chagas dentro do SUS, no município de Abaetetuba e um serviço que vai integrar três principais grandes áreas. Primeiro, nós atendemos os pacientes que são diagnosticados, confirmados, acompanhando os exames desses pacientes com eletrocardiograma; depois nós trabalhamos junto com a atenção básica, apoiando os profissionais médicos que estão na atenção básica, ajudando o diagnóstico, capacitando esses profissionais; e também a gente atua junto com a vigilância epidemiológica para investigar os casos onde há surto de doença de chagas agudas, principalmente nas zonas rurais, nas zonas ribeirinhas”.
Para discutir os impactos das mudanças climáticas na saúde da população amazônica, especialistas, jornalistas e representantes da sociedade civil se reuniram este mês em Belém no evento Saúde e Clima na Amazônia: histórias reais, soluções urgentes. A proposta foi construir soluções que promovam a união entre saúde pública, segurança alimentar e preservação ambiental.
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